Sunday, June 25, 2006

O caso Suzane

Sobre o presente assunto vou aceitar a sua opinião, seja ela qual for, eu prometo, sendo que só levo em consideração a opinião dada com respeito, pois atirarmos pedras verbais nas pessoas hoje em dia conforme na maioria das vezes tenho visto sobre este caso, não é condizente com os dias de hoje e significa para mim um retorno a idade média, onde as pessoas vêm o seu próprio sadismo refletido nos "bruxos" e quebram o espelho onde não se reconhecem.
Sou muito impressionada com este caso que incomoda e desperta muita curiosidade e reflexão. Deveria causar reflexão para sempre, mas reflexão não significa apenas julgar e condenar o outro, mas reflexão é o ato do espelho, o espelho reflete nossa imagem, não apenas nossa luz, como também nossa sombra.
Sei que tem muito assunto aqui e não acho legal assuntos longos em blogs, mas nesse caso não poderia ser de outra forma. Nosso objetivo é, mesmo que ironicamente fugir dos preconceitos e dos rótulos nossos e alheios. Ou se não for este, por favor troque de site e não perca seu precioso tempo.
Caso Suzane:

O resumo:
* “Assassinato violento do engenheiro Manfred von Richthofen e sua mulher, a psiquiatra Marísia, ocorrido em São Paulo em novembro de 2002, planejado pela filha, Suzane, de 19 anos, com o auxílio do namorado Daniel Cravinhos e do irmão deste. O caso, ainda em julgamento, chocou a opinião pública pois a família não tinha problemas financeiros, a filha estudou em um dos melhores colégios da cidade, falava 3 idiomas, era estudante de direito numa boa faculdade, e seus pais, pelo que se sabe, eram preocupados com o futuro dos filhos e procuravam estar presentes no dia-a-dia deles (há um filho mais novo, Andreas). O motivo alegado foi a proibição do namoro com Daniel, rapaz problemático. Os dois eram viciados em maconha.”
Do site:
http://www.portaldafamilia.org/
Ali tem uma analise que eu achei muito conservadora, mas talvez você não ache.

"Suzane e o sistema
Certa vez, durante o programa Casa dos Artistas, o ator Ricardo Macchi afirmou que o universo em que vivemos é basicamente espaço vazio. Inúmeros jornalistas, personalidades, e até intelectuais, consideraram que Macchi havia dito uma grande besteira. O fato é que o universo realmente é formado por espaço vazio. Até mesmo uma pesada barra de ouro maciça é formada por espaço vazio. Prova disto é que uma prensa cósmica, um buraco negro, poderia fazer com que essa barra ficasse do tamanho da cabeça de um alfinete, sem haver perda de massa.
As aparências enganam, não podemos confiar cegamente no nosso senso comum, naquilo que não possuí uma sólida fundamentação cientifica. A física, com o valioso suporte da matemática, nos mostrou que o mundo pode não ser o que aparenta.
Infelizmente, nem tudo pode ser comprovado de forma cientifica, tendo como base a matemática. Um bom exemplo é a psicologia, que ainda está baseada no senso comum, nos padrões impostos pela sociedade.
Na União Soviética, uma pessoa contrária ao regime socialista era considerada como vítima de uma perturbação mental. As clínicas psiquiátricas da Rússia estavam lotadas de cidadãos que não concordavam com o regime vigente. Nunca faltaram psiquiatras para endossar as atitudes dos dirigentes soviéticos. Mas não é necessário buscar na extinta URSS exemplos de como a psicologia pode ser usada como meio de opressão e dominação. Aqui mesmo no Brasil tivemos inúmeros casos de pessoas que, por serem diferentes, eram internadas e "tratadas", com drogas e choques elétricos.
A psicologia não é uma ciência exata, ela não conta com os mesmo fundamentos da biologia ou da medicina. As inúmeras teorias e escolas permitem defender qualquer tipo de tese, por mais absurda que possa parecer. Desde o século XIX, pesquisadores tentam, sem muito sucesso, comprovar a influência genética no caráter psicológico de um individuo. Desta forma, a psicologia, aliada a genealogia, já foi utilizada para justificar o racismo.
Mas é necessário reconhecer que a partir da década de 70 a psicologia teve um notável desenvolvimento, não que tenha surgido alguma nova teoria que permitiu uma reformulação desta ciência. Foi simplesmente uma mudança no comportamento da sociedade ocidental que obrigou psicólogos e psiquiatras a evoluírem em seus procedimentos. Filmes como “Um Estranho no Ninho” e dramas de personalidades holywoodianas ajudaram a mudar a psicologia.
Lamentavelmente, este avanço virou retrocesso a partir da década de 90, mais uma vez por influência da sociedade, que voltou a adotar uma postura conservadora. Houve uma redescoberta dos valores morais, do casamento, da família e da religião. E a psicologia teve um papel fundamental na sustentação desta onda moralista.
O caso Suzane Louise parece resumir toda esta histórica erradica e contraditória da psicologia. Inúmeros profissionais são utilizados pela mídia como instrumento de demonização da jovem Suzane. Psicólogos e psiquiatras declaram apenas aquilo o que a sociedade deseja ouvir. Não há contestação, não há discussão, todos são unânimes: a jovem sofre um incurável desvio de personalidade, é uma psicopata, não há perdão, não há recuperação. Tudo resultado da falta de limites, da liberdade dada pelos pais, do consumismo da sociedade, da violência exibida pela TV, etc.
Porém, até pouco tempo atrás a psicologia era usada para justificar a morte de uma esposa infiel. Quantos maridos não se livraram da prisão e foram apresentados como vítimas. E o que dizer dos pais que matam suas filhas pelo simples fato de serem do sexo feminino? Um fato comum até hoje em alguns países asiáticos e que não é contestado pela psicologia. Será que os indivíduos de uma sociedade que aceita a morte de uma jovem quando o marido ou os pais descobre que ela perdeu a virgindade antes do casamento podem ser considerados como psicopatas?
Para completar, uma última questão: e se tivesse ocorrido o oposto na casa do casal Richthofen. E se os pais tivessem determinado a morte de Daniel e Suzana, será que haveria o mesmo estardalhaço. Uma dica: já tivemos fatos desta natureza, envolvendo famílias da alta sociedade. A repercussão foi desprezível. Outros casos de filhos que mataram os pais também não tiveram a mesma atenção da imprensa. Então, porque todo esse sensacionalismo em torno do caso Suzane?
Para começar, Suzane é uma jovem mulher. Se fosse homem, seria mais aceitável. Em nossa sociedade, machista, as mulheres devem ocupar uma posição de submissão. Os jovens devem ser submissos aos adultos. Mas o principal é que Suzane quebrou o mais tradicional sistema de dominação/opressão de nossa sociedade: numa família, os filhos devem ser submissos aos pais, assim como os empregados devem ser submissos aos patrões, os cidadãos ao governo e o mundo aos EUA.
Toda nossa sociedade está moldada dentro de um sistema de dominação/opressão, que se reproduz em diversos níveis. Até na religião que adotamos temos um típico modelo de dominação/opressão. O comunismo era odiado justamente por denunciar e contestar este modelo de dominação/opressão. E não foi coincidência o fato da atual onda moralista ter surgido após o fim da URSS e o enfraquecimento dos partidos de esquerda.
A psicologia é uma peça chave em toda essa estrutura. Ela garante a manutenção do modelo. A Suzane é vista como uma grave ameaça a este modelo por ser uma mulher, por ser jovem e por enfrentado os seus pais. Por isso, ela deve ser endemonizada. Neste momento, todas as teorias da psicologia devem ser empregadas para condenar a jovem.
Obviamente, não queremos dizer que ela é inocente do crime que cometeu. Mas se queremos evoluir, devemos compreender corretamente o que está acontecendo. Neste momento, Suzane esta sendo julgada não apenas por um caso de duplo assassinato, mas por ter quebrado, em três níveis, o sistema de dominação/opressão vigente em nossa sociedade(mulher/homem, jovem/adulto, filho/pais). Os profissionais da psicologia, com raríssimas exceções, não têm ajudado a esclarecer esta tragédia. Pelo contrário, atuam como defensores de frente do sistema. E com a ajuda da mídia, utilizam este caso como um instrumento de doutrinação. "
http://www.geocities.com/ e o restante do endereço é:
televisioncity/studio/
4067/n0501031.html
Minha opinião
Acho interessante encontrar um artigo destes que saia do lugar do senso comum. E digo mais: Algo interessante neste caso é o fato de um rapaz de classe inferior, “um plebeu”, como é o caso de Cravinhos ter penetrado no reduto da alta sociedade, através do seu romance com Suzane. (sei que não é nenhum caso isolado) Neste caso houve uma deturpação do lirismo sheakespeareano quando em vez de um duplo suicídio ocorre um duplo homicídio. Aquele que ocupou o lugar do “Romeu” na história não era exatamente um sujeito virtuoso, mas um drogado, um sujeito talvez com tanta ambição quanto àquela que tiveram os pais de Suzane, que viajaram para o exterior para completar seus estudos
E foram bem sucedidos.
E o que temos então para sociedade: o mostro que a sociedade precisa. Depois da sociedade ter confeccionado tantos monstros, das classes menos favorecidas, monstros feios e defeituosos, agora nos deparamos com um monstro jovem, de rosto perfeito que não necessitaria qualquer cirurgia plástica, inteligente, poliglota, nos deparamos com um monstro que engordou de desamor quando os pobres passam fome e talvez o monstro seja menos perigoso para a sociedade do que alguns vizinhos de porta podem ser, como não é meu caso felizmente, pois minha vizinha de porta não incomoda absolutamente nada. Talvez o monstro Suzane não faça barrulho, não assalte pessoas nas esquinas, não invente mentiras para bloquear o prestígio das pessoas ou se tentar alguma coisa todos estarão preparados para isso. Essa menina não pode ser muito normal afinal. Eu creio que não. Mas, alguém tem de pagar por tudo o que nos tem acontecido e temos em Suzane um bode espiatório perfeito: Ela é loira, de descendência alemã, povo que praticou o nazismo, é rica, teve tudo o que quis, até mesmo aquela boneca que a sua filha pode ter pedido tanto e você não pode lhe dar e acabou com seus bens mais preciosos: Seu pai, sua mãe, sua própria vida. Talvez, se ela não for presa possa na calada da noite chegar sorrateiramente na porta da sua casa e com sono você vai abrir e quando o fizeres, Suzane impiedosamente lhe dará os dez tiros que você precisava para ser inocente no outro mundo. Suzane tem este dom de ceiifar toda a culpa daqueles que mata, ela só mata pessoas que são capazes de lhe dar amor, ou quase...Quem ama fica mais vulnerável sobretudo quando tem dinheiro.
Os muros pichados nas ruas não demonstram apenas que o povo está contra Suzane ou talvez inconscientemente este mesmo povo queira saber porque punem os pequenos ladrões e porque não conseguimos, nem mesmo nós que somos formados em Direito, compreender exatamente as razões que levam alguém a cometer um crime como esse (eu diria nós que não temos uma visão do Direito como se tem de alguma Ciência Exata, visto que nem as Ciências Exatas deveriam formar donos da verdade). Não justifica-se qualquer determinismo nem do ponto de vista da influência do meio sobre o indivíduo e nem se justifica determinismo que nos diz que há pessoas que já nascem delinqüentes, os psicopatas e que esta doença não tem cura e/ou nem nunca terá. Desta forma as prisões vão se transformando em verdadeiros depósitos de gente, tanto de ladrões considerados compulsivos, de traficantes influenciados pelo meio e de muitas pessoas consideradas doentes e irrecuperáveis. Mas, o sistema também é irrecuperável e não evolui? A sociedade não evolui como um todo? Temos muros pichados, papeis sujos pelo chão, pessoas que cospem nas ruas, motoristas que buzinam sem motivo. Podemos ser violentados de forma lenta e progressiva. Todos os dias, ao sairmos as ruas, no estudo e no trabalho nos deparamos com competitividade em primeiro lugar e não com solidariedade, os pais exigem que os filhos sejam preparados para o futuro e se debrucem nos livros sem se divertirem ou deixam seus filhos atirados a própria sorte, varias criancinhas são humilhadas pelos próprios pais por se distraírem com algo interessante no seu caminho, quando não há tempo e paciência para satisfazer-lhes a curiosidade. Não se vive a vida por etapas e não se respeitam as etapas das várias idades. A sociedade se compartimenta em redutos e pode não haver diálogo.
Pode ser até que Suzane seja doente mental, mas não tem debilidade mental ao meu ver. Ao contrário planejou um crime com muita inteligência, usando sua inteligência para o poder, para o mal, pois acreditou que na vida devemos buscar o poder. Quem lhe passou esta lição? Talvez não tenha compreendido bem a lição dos pais que talvez não seja bem essa, mas pela forma como exigiam dos filhos em termos de estudos, que eles estudassem em escolas para preparar um futuro brilhante e se preocupavam muito com isso, podem ter passado esta mensagem: de que devemos vencer aos nossos concorrentes e que concorrente pode ser o nosso colega do lado. Essa é a mensagem que o capitalismo vem a anos nos enviando, embora o capitalismo mesmo possa revisar essa impressão. O fato é que cada vez mais é ensinado que o dinheiro trás felicidade. Suzane e o namorado queriam o dinheiro dos pais, e o dinheiro para eles, conforme aprenderam em algum lugar era a coisa mais importante para eles. O dinheiro pareceu mais importante do que o amor. Quantos hoje em dia pensam assim! Quando os pais temem demais pelo nosso futuro e não acreditam em nós isso nos causa insegurança e gera ações errôneas. Seria bom se os jovens pudessem estudar pensando em desenvolver seus dons e ajudar a humanidade sem medo do futuro, sem achar que o consumismo e a satisfação dos apetites seja mais importante do que a espiritualidade e/ou manter conduta ética.

O caso Suzane deve servir como reflexão, embora eu não saiba exatamente o que possa ser melhor par todos. No Direito aprendemos a defender clientes, seja cliente a sociedade, o Estado, ou o indivíduo, pois todos merecem defesa e todos têm esse direito. Eu defenderia o lado que me coubesse, se fosse ocaso, e só então tomaria uma posição. Enquanto isso eu estou acompanhando a muitos anos este caso e observo como funciona nele individuo e sociedade. Creio que os dois devam se desenvolver, evoluir e reformarem-se na medida do possível. A posição de taxar indivíduo ou comunidade com algum rótulo pejorativo, como o fiz neste texto de forma irônica como um recurso não me cabe como uma pessoa formada em Direito por eu ter estudado Direito como uma Ciência. Eu gostaria que as pessoas compreendessem que xingamentos não levam a nada e precisamos refinar as nossas idéias, não necessariamente precisando fazer um curso universitário para tanto.
O julgamento está marcado para breve. Espero que não seja algo medieval. Se a mídia não transmitir o julgamento isso se deve, acho, a maneira como os telespectadores podem se comportar.