Saturday, June 24, 2006

Cabelos

A experiência de raspar a cabeça sacode muito o social, principalmente no caso da mulher e eu sempre tive a idéia sub-repetitícia de raspar os cabelos, mas não a zero. Pratiquei o crime e deixei algumas penúgens de lembrança. Isso sacudiu com meus próprios conceitos sociais. Eu olho para mim e me lembro de alguns casos de câncer, quando graças a Deus estou saudável. Minha vaidade foi vasculhada. Tive um sentimento de exclusão acentuado. Senti-me totalmente regeitada, desolada e deixei a dor atravessar-me, a dor da solidão, das perdas, dos preconceitos. Os homens me deram o prazer na rua de me olharem com cara feia quando muitas vezes me olharam com um abominável olhar de desejo apenas físicos em alguns casos. Um naquinho de cabelo mirrado fazia parte de ser vista como uma presa, vejam só! Quando fui atendida num balcão, uma mocinha linda levou um susto ao me ver e somente depois de algum tempo percebeu que eu era gente. Eu mesma confesso que fiquei uma noite sem dormir. Mas, eu andava com a idéia não apenas de raspar a cabeça, mas tive o desejo de deixar o modelo vivo da oficina todo raspadinho enquanto o desenhava, sendo que respeito as preferências exóticas daquele rapaz. Detesto barba sem bigode. Não sei porque a gurizada insiste na barba sem bigode quando qualquer homem bonito assim fica com cara de besta. Mas, a cabeça zero é it. Acho que não precisa passar lustra-movel com paninho. Só uma raspada zero sem gilete já tá bom. É só ter uma máquina em casa. Depois da raspada os afetos se encarregam de ver se ficou algum fiozinho solto fora do lugar querendo ser gente. Olha gente, eu estou tão bem assim que até transaria comigo mesma. Agora é só convencer a galera do quanto eu sou bonita. Não vai ser fácil.
Geralmente eu acho que as pessoas não tem um cabelo muito bonito e gastam muito com os cabelos. Cabelo é supérfluo. Amor não. Meus referenciais nunca foram muito seguros e o que eu estou oferendo é meu presente, não meu futuro, nem meu passado. Mas, eu precisava constantente arrastando o tapete vermelho por onde passa a procissão dos incrédulos? Não estou muito consciente disso. Quando eu vi uma pessoa do meu passado, que pode nem ser esta pessoa com os cabelos pintados de outra cor, com outro jeito físico a deixar tudo em dúvida sobre sua identidade, confesso que me olhei no espelho e me senti desconfortável com o que vi. Fiquei confusa. Mas, eu juro, meus cabelos estavam muito arrepiados e perdi a paciência com eles. Sou inocente, foi sem querer querendo...