Thursday, June 15, 2006

Brasil e Croácia

Ela trabalha num salão de beleza e veste-se com uma elegância admirável, nos seus pretinhos básicos e salto agulha, nunca exagerando nas cores e tons. É a primeira pessoa a passar por mim, ou talvez, a primeira que me chamou a atenção naquela tarde, antes do jogo do Brasil. Carregava consigo uma pequena bolsa de bandeira do Brasil, igualmente graciosa, mas nela constitua-se em inusitado detalhe mágico que me fez cumprimentá-la com um pouco mais do que um sorriso, mas quase uma risada, contida. Sim, elegante, sim, brincalhona, sim patriota, alegre e saiu do sério, amiga! .E assim passei por muitas moças de mantas verdes. Todos tão alegres, então! Uma mulher sentada na mesa de um bar cuidava o relógio, quando ainda era bem cedo para começar o jogo tão esperado denotando uma ansiedade na face como se uma criança estivesse para nascer. No supermercado um detalhe sutil de fitas verde-amarelo na lapela dos funcionários. Eu usava junto a tons que lembram a terra de onde viemos, um lenço com as cores do Brasil e detalhes da Caixa Federal donde vem meu sustento. Uma toca muito bonita foi confeccionada para uma menina, amarela com uma florzinha verde em crochê. E os cachorros todos vestidos a rigor
com as cores da bandeira. Até mesmo uma árvore se vestiu de verde e amarelo, conta mamãe durante o jogo. Meninos vendendo bandeirinha na sinaleira são figuras óbvias._ Coloque uma, também no seu carro, moço!_
E o sorriso? O sorriso de uns para com os outros melhorou muito. O corpo todo fala e gesticula-se dizendo que agora somos todos irmãos e esquecemos aquelas velhas rixas do passado. Os estrangeiros também estão alegres nas ruas e se divertem com a alegria discreta destes brasileiros, hoje, e não espalhafatosa como em alguns anos atrás em um passado não muito remoto. Apenas alguns motoristas, ainda trogloditas, insistem em poluir a cidade com sons de buzinas que bem poderiam ser menos desagradáveis. Alguns apitos também soam, mas o som não é como o daqueles apitos ensurdecedores. Uma menina, com uma camisa da seleção brasileira, canta ao atravessar a rua: Tá todo mundo louco, oba, tá todo mundo louco, oba! Mas, a consciência da própria loucura nos permite um bonito devaneio e oba, fui assistir ao jogo na casa dos meus pais, tinha chocolate quente, pipoca e grissinis integrais. Meu filho mais velho estava pintado de verde amarelo e o mais moço fez uma espécie de varinhas de condão para ele e o irmão torcerem em papel verde e amarelo. Nestes momentos, o catártico, “puta merda”, também é permitido, mas foi usado com moderação durante o jogo, em que para variar, poderia ter tido menos pancadaria, mas ganhamos. A frase já cansada mudou: o importante é ganhar, diz o comentarista do jogo. Para a Croácia foi importante participar. Que venha o próximo!