Saturday, August 26, 2006

Xipaias

Uma cultura na UTI da cultura brasileira e indígena.
A última falante dos xipaias, tribo indígena brasileira, Maria Xipáya, presume-se nascida em 1928, mas esta idade é fictícia tendo em vista os xipáias não contam anos, contam luas. Esta senhora está sendo ouvida por uma lingüista, Carmem Rodrigues que ouve e anota relatos da velha senhora indígena, bisavó de muitos bisnetos. Com isso a língua xipaia, cujo tronco é o Tupi tem chance de renascer no Brasil e iniciam-se estudos na aldéia recentemente construida para reconstituir esta cultura, onde indígenas que usam muitos artefatos da civilização, mas devem ser incentivados a resgatar sua cultura e sua língua nativa da qual só relembram algumas palavreas esparsas.
Eu tive uma segunda mãe com os traços semelhantes ao desta índia xipaia, que era aqui do interior do Rio Grande do Sul da Região das Missões, para os lados de Tapera do Sul. Ela contava muitas histórias. É semelhante sua história com a de Dona Maria. Ela também possuia uma curiosidade imensa pelas "maravilhas da civilização" e, embora provavelmente nunca tenha passado fome, deixou sua casa, como ela dizia "barreada de bosta de vaca", para morar com os brancos, em troca de uma segurança abstrata, pois os brancos tinham dinheiro e não correriam riscos presumidos como aqueles que vivem de uma forma muito simples em uma cabana com uma horta por perto, frutos do mato e de vez em guando algum porquinho ou galinha que eram mortos em ocasiões especiais aproveitando-se todo e qualquer pedaço do animal para alguma utilidade, até mesmo para a conservação de alimentos na banha.
Mas, assim como Maria e minha tia Carmem, muitos indigenas foram seduzidos pela tecnologia, pela luz elétrica e desprezaram sua cultura, sua língua quando falavam alguma língua indígena e seus costumes de modo geral. Quem diz que nós não iremos também ser seduzidos pela cultura e língua indígenas se é que já não fomos? Confesso que já sou seduzida por toda e qualquer cultura que se apresente até mesmo aos pedaços para que possamos viver em meio a diversidade e conhecermos outras civilizações sem perder de vista a história até mesmo de nossas família onde eu me orgulho de ter sido cuidada por uma bugra, que não apreciava devidamente sua cor parda e estava cheia de histórias para contar, histórias de outros tempos em que as casas eram cimentadas de uma forma muito especial, onde nunca deveria ter sido problema o aipim ser chamado de mandioca e onde nunca eu deveria ter sido corrigida por isso. É muito importante saber o porque de tudo e percebemos isso cada vez que os anos passam, quando o que importa nem são os anos, mas as luas.
Fonte:
Revista Época- reportagem sobre os Xipáias.